sexta-feira, 16 de maio de 2008

A celeuma do dia

Einstein em um de seus momentos de oração (hehehe!)


Mais uma vez está na pauta do dia a polêmica entre religiosos e ateus. Há, sim, uma militância anticristã bastante barulhenta. Desde há muito, quem quer que circule nos meios acadêmicos, ou qualquer outro lugar onde haja a pretensão de intelectualidade, sabe que o tom de desprezo pelos religiosos é recorrente. Não é de hoje que pretendem desautorizar o discurso religioso simplesmente porque religioso. O que tem havido atualmente é um recrudescimento desse desprezo. Ateus resolveram partir para o ataque. Trata-se de uma espécie de proselitismo ateístico. De todos os polemistas do dia, o que me pareceu mais pernicioso é o tal do Phillip Pullman. Vai virar assunto depois!


Retomando. Escrevo esse post para tratar da tal carta de Albert Einstein declarando seu desdém pela religião. Como sabemos, e sobretudo depois da internet, há uma profusão de textos apócrifos circulando por aí com historinhas interessantes atribuídas a grandes personagens da ciência. Dia desses recebi um a respeito de Louis Pasteur. O e-mail dizia se tratar de fato verídico que consta na biografia oficial, etc., etc. Só que não dava a referência!!! Aí, meus caros, por mais que houvesse algum valor na moral da história, o simples fato de ser apócrifo já era suficiente para abalar a credibilidade do texto.


A caricatura do cristão como o crédulo boboca, o ingênuo que adere a qualquer discurso, o fracote que precisa de alguma coisa em que se sustentar não é, de forma alguma, sem razão. Que dizer agora? Aquele aforismo que dizia “um pouco de ciência nos afasta de Deus, muita ciência nos aproxima dele” pertence a quem? Já cheguei a vê-lo atribuído a Einstein. Talvez até do púlpito, não estou muito certo. Indo ao ponto, escrevo mais como uma exortação aos crentes que como uma censura ao cientista.


Em meio a tudo isso, fico feliz por ter amigos ateus, mas com bom senso. Aliás, a verdade vale mais que um simples compactuar de sentimentos comuns. Não somos nós contra eles. Não pode haver corporativismo nessa história. Digo isso porque a voracidade estúpida dos neo-ateus não será menor do que a não menos estúpida reação de alguns religiosos. Então devagar com o andor. Coloquemos as coisas no seu devido lugar. Ninguém é melhor ou pior porque cristão. Ninguém é melhor ou pior porque ateu. Somos todos humanos. E sujeitos a erros. Um pouco de bom senso é bom e eu gosto. E como gosto, divulgo. Segue texto do meu amigo Alex Lennine, que cursa a graduação em filosofia comigo. Pensei em fazer duas ressalvas ao texto dele, mas publico primeiro tal como o recebi. Polemizo depois, se me sobrar vigor!


Um modo ingrato de colocar as coisas, afinal


É comum que as pessoas busquem grandes exemplos na História a fim de darem ares de seriedade, profundidade e verdade a suas crenças. O velho (e mau) argumento de autoridade.


Einstein é um dos mais disputados. Religiosos e não-religiosos alternam-se em citações para demonstrar que ele era, afinal, religioso e cria em deus; ou não era religioso, mas ateu. Mas há muitas razões para alguém ser, bem como não ser religoso e acreditar ou não em deuses. Só ocorre que inteligência e caráter não estão entre elas – são tão mal distribuídas lá como cá.


Muitos religiosos são decididamente desonestos ao tentar atribuir a Einstein algum aspecto religioso e teísta quando ele sempre deixou claro que “seu deus era o deus de Spinoza” - algo mais diferente que um deus pessoal, criador e interventor que o deus de Spinoza, convenhamos, é difícil sequer de imaginar.


A religiosidade a que ele se referia é aquele sentimento de assombro, de perplexidade, que é anterior e *causa*, não conseqüência, da religião – que está na causa também da filosofia, das ciências, das artes... e não foi cooptado por nenhuma dessas esferas. Eis, pois, um dos problemas da religião: mesmo quando a defender e encarnar valores bons, úteis, ela os enquadra, os seqüestra, os enforma. E então eles deixam de ter valor em si e passam a ter valor “porque” religiosos.


É neste sentido que, afinal, há alguma justificativa para os ateus buscarem bons exemplos de ateus na História: os ateus que são os discriminados, os injuriados, os acusados. Que precisam provar que não são imorais, que não têm raiva de deus (ou todos os que não acreditam no Papai-Noel não acreditam nele “porque” não recebiam presentes e por isso têm-lhe raiva?). Exemplos como Einstein, nesta nova carta, têm esse valor.


Mas somente esse. O fato de igualmente haver tantos gênios e tantos grandes homens e mulheres teístas e religiosos também deveria ser suficiente para calar os ateus que se acham superiores simplesmente porque ateus.

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