terça-feira, 13 de maio de 2008

Um novo livro para a última flor do Lácio

O novo acordo ortográfico da língua portuguesa nem bem saiu do papel e o primeiro dicionário com todas as mudanças agrupadas já está à venda. Trata-se do Novo dicionário da língua portuguesa, sob consultoria de João Malaca Casteleiro, da Texto Editores, uma das 10 empresas que fazem parte do grupo Leya. A editora portuguesa sai na frente das brasileiras, que ainda avaliam de que forma vão reeditar seus dicionários quando o acordo for decidido, o que deve acontecer até o fim deste mês.

A editora Positivo, responsável pelos dicionários Aurélio, já trabalha para uma nova edição a ser lançada ainda este ano e prepara cartilhas para atualizar os professores. Boa parte do material didático comprado pelo governo para utilização nas escolas públicas é produzido pela editora paranaense.

– Muito se fala nas mudanças de letras e acentos. Mas é preciso pensar também nos professores, que deverão ser reciclados antes que as mudanças sejam adotadas – lembra o diretor de livros e periódicos da Positivo, Emerson Santos.

A Academia Brasileira de Letras (ABL), que acabou de finalizar seu primeiro dicionário escolar, a ser publicado pela Editora Nacional, teve de correr para "parar as máquinas". Quando o livro ficou pronto, os lexicógrafos perceberam que as mudanças já seriam uma realidade à época do lançamento. E decidiram elaborar um suplemento com as alterações, encartado, até que o acordo vire lei.

O livrão do bruxo

A ABL, aliás, engatou a primeira dos dicionários: depois do escolar, a equipe composta por cinco lexicógrafos prepara um dicionário de Machado de Assis. A partir de 17 obras, chegaram a um universo de 9 mil palavras. A lista compilada é uma amostra significativa da linguagem usada na virada do século 19.

– O vocabulário de Machado de Assis não é precioso mas é refinado – explica Bechara. – Um português rico, mas sem arcaismos.

Entre as palavras encontradas, curiosidades como "camborça" (amante), "gamenho" (elegante) ou "urtigar" (castigar com urtigas).

– Ao ler Machado, é preciso atentar para algumas especificidades da época, que se refletiam na língua. Almoço, por exemplo, não é a refeição que hoje entendemos por almoço, ao meio-dia, mas o desjejum. A palavra vem do latim, ad mordium, que significa a primeira mordida, a quebra do jejum. E, naquela época, as pessoas faziam as refeições mais cedo. São nuances como esta que atribuem outros significados ao romance – explica o lexicógrafo Claudio Mello.

A história

O primeiro dicionário de língua portuguesa foi feito no século 19 por Rafael Bluteau. Depois dele, houve a tentativa da Academia Real de Ciências de Lisboa, mas não conseguiram passar da letra A. O lingüista Antônio de Morais e Silva fez então o que viria a ser o mais importante do século 19, segundo especialistas, o Diccionário da língua portuguesa. Vieram então o Caldas Aulete, que foi editado pela primeira vez em Lisboa, em 1880, e o Laudelino Freire, já no século 20.

Hoje, cada dicionário tem um estilo claro. O Houaiss, por exemplo, é o mais erudito, voltado para a origem etimológica. E o Aurélio, um dicionário de abonação, repleto de exemplos do uso, principalmente da literatura.

Jornal do Brasil, 10 maio 2008. Caderno Idéias e Livros.

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