quinta-feira, 10 de julho de 2008

O crime do mago


Na lata: Paulo Coelho é um bom escritor? Mesmo que você nunca tenha lido um livro do Mago, a resposta óbvia e ululante é não. Aliás, entre os círculos sociais que freqüento (que chique!) o preconceito contra o escritor é infinitamente maior do que contra negros, índios e gays. Penso se não seria o caso de estabelecer um sistema de cotas para os leitores de Paulo, já que o único lugar que ainda admite a pluralidade absoluta de leituras é o bom e velho Metrô (mais velho do que bom). Lá, tanto faz se você lê Joyce ou Zíbia Gasparetto; Paulo Coelho ou Proust; a Bíblia ou O Anticristo. Ninguém o censurará. Pelo contrário: pescoços se esticarão com o intuito de socializar o texto. Desconfio até que existam comunidades secretas que se reúnem periodicamente nos trens e metrôs para compartilhar suas leituras malditas.

Mas não ouse recitar uma passagem de “O Alquimista” numa roda de bem-pensantes. Nunca! Ler Paulo Coelho é crime inafiançável. Confesse um pecado, conte uma impostura, mas jamais caia na tentação de admitir uma passada de vistas nas letras coelhianas. Estaria eu defendendo a qualidade literária do mais novo biografado de Fernando Moraes? De forma alguma. O que eu desejo entender é a aversão a priori. Podemos dizer que Paulo Coelho escreve mal? Podemos, claro. Mas para isso é necessário desenvolver a árdua tarefa de determinar o que é escrever bem.

Durante uma fase da minha vida acreditei que “escrever bem” estava associado à invenção. Logo, escrever bem era “escrever diferente”. Nesse sentido, a grande referência era, sem dúvida, Guimarães Rosa – aquele que fazia pirâmides ao invés de biscoitos (para lembrar uma tirada de Nelson Rodrigues). Com o passar dos anos, confesso que fui me entediando com as invenções estilísticas do escritor mineiro. Passei a me interessar pelo texto cortante, “ineditável”, cuja referência era Graciliano Ramos. Impossível “editar” uma linha de Vidas Secas... Mas e o parceiro de Raul Seixas?

Acredito que todas as restrições ao Mago sejam motivadas menos pela sua questionável qualidade literária do que pelo seu sucesso mercadológico. O pecado de Paulo Coelho não é escrever mal ou errado: seu crime é vender livros a rodo. Escritor bom, na mente de nossos guias, são os marginais, que vivem na sarjeta, mendigando audiência. Escritor que vende não merece crédito. Onde já se viu, ganhar o pão e ainda desfrutar de um pouco de luxo apenas com as letras?! Inimaginável. Conselho aos aspirantes ao mundo literário: não vendam. Se vender, é certo que terão de trilhar o Caminho de Santiago do escracho crítico, ou sentar às margens do Rio Piedra e chorar...

2 comentários:

Marie Tourvel disse...

Olha só, meu pai tinha uma teoria. Ele dizia: "Temos que ler o bom e o ruim para formarmos opiniões e sempre poder mudá-las".
Já li Paulo Coelho, sim. Dois livros. Não me arrisquei no terceiro e nem mudei minhas opiniões por conta desta leitura. Ele, definitivamente, para mim, não é um bom escritor. Mas acho que é um ótimo vendedor de livros, sim. E não o critico por isso. Aliás, ele é bom nisso. Um beijo.

Pink Poison disse...

Será que eu, que já li, entre outros tantos autores, Paulo Coelho, escrevo bem?