quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sai de retro, 16



Em algumas regiões do país ainda é comum os pais darem um incentivo para iniciar os filhos machos nos prazeres da vida. Levam o moleque até uma casa de pouca luz e muito fogo, e lá elegem uma funcionária para mostrar o desconhecido ao inocente. E o meninão, tremendo mais do que vara verde, perde a candura assim, à força. Não se trata de uma escolha, mas de uma imposição ritualística, litúrgica. E ai do guri que ousar questionar o método: ganhará, no mínimo, a alcunha de frouxo.

Lúcia Hippólito me fez refletir sobre o triste destino daqueles que ainda não se sentem preparados para empreitada; para aqueles que alimentam o desejo de encontrar um grande amor para juntos desbravarem os prazeres do desconhecido. “Baitola!”. E por que digo isso? Leio no blog da cientista política a iniciativa de um grupo de estudantes do Rio de Janeiro que estaria ressuscitando o “Se liga 16”— movimento criado pela UNE durante a Constituinte para conscientizar os jovens sobre a importância da participação política, e para convencer a Constituinte a diminuir a idade mínima para votar.

Lúcia, sempre inteligente e honesta, não deve ter passado por essa idade. Pulou da infância para a idade adulta. O que se faz com 16 anos? Inutilidades sociais. E digo isso não como censura, ou deboche. Ao contrário: é natural que as inutilidades sejam feitas nessa fase da vida. A idéia de “conscientizar” a molecada de 16 anos a participar do processo político me parece semelhante ao pai que quer ajudar o moleque a se tornar sujeito homem.

Não que ele não esteja preparado para isso — tanto ir à casa da luz vermelha, quanto às urnas —, mas porque parece ser inadmissível o sujeito com 16 anos (!) não se interessar pela(s) matéria(s). Alienado! Bicha! E o que é participar? Seria apertar o verde e confirmar? Tenho certeza de que a noção de “participação” dos defensores de nossos calouros não é a urna. Sempre que se fala em participação, a questão parece remeter à militância, ao proselitismo. “Participante” é quem levanta bandeira, pinta a cara, faz panelaço. Ao contrário, alienado é quem está pouco se lixando para a política.

O moleque de 16 anos que deixa a barba falhada crescer, usa camisa do Che, diz-se marxista (sem nunca ter lido o velho) e milita pela importância do voto para a consolidação da democracia, é logo tido por politizado. O pobre diabo, espinhudo, virgem e que só quer saber de estudar matemática para ser engenheiro igual ao papai, é, logo, um alienado. Tem tudo para ser um eleitor do DEM, coitado. Não serve para nada: será o alvo do “Se liga , 16”.

Barackmania


Num determinado trecho do texto, Lúcia diz que “ganhe ou não as eleições americanas, Barack Obama já tem o indiscutível mérito de ter trazido a juventude americana de volta para a política. Nos Estados Unidos, os jovens não tinham tamanha participação política há quase 40 anos”. Olha só: não é só nos Estados Unidos que Obama faz sucesso. Se a eleição fosse aqui, nossas crianças o elegeriam no primeiro turno. Mas pergunte ao imberbe uma única proposta do Barack. Pergunte qual é o plano do homem para o Iraque, para a economia, para a América Latina. “We can change” é tudo o que se sabe sobre o homem. E para os jovens isso parece o suficiente: uma oratória formidável e a palavra mudança. E o que é necessário mudar? Não importa. Mudar é preciso. “Ah, mas idade não resulta, necessariamente, em consciência política”. Jura? Mas o que questiono é a idéia de tomar a “consciência” política como um valor. Quem supostamente não a tem, deve logo obtê-la para não ser visto como um pária, um leproso.

E é justamente essa exigência de respostas por parte daqueles que ainda não tiveram tempo de formular as perguntas que faz dos jovens a classe mais suscetível ao alinhamento automático, ao espírito de rebanho. Pobrezinhos...

Defendamos o direito de cantar e andar para política; lutemos para que nossos jovens tenham o direito de assistir Malhação enquanto Lúcia Hippólito se delicia com o horário eleitoral.

Assim, eu proponho uma contra movimento: o Sai de Retro, 16. Socialmente mais responsável, minha proposta visa afastar, ainda mais, a molecada de 16 anos do cenário político. E todo mundo ganha com isso: os jovens, que poderão gastar energia com coisas mais divertidas; e a própria política, que se preserva da possibilidade de participação de quem só quer pagar de consciente para conquistar as menininhas.

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Lúcia, desculpe, sei que não foi pra tanto. Acho que é a idade: estou me tornando um velho ranzinza...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sobre oportunidades perdidas


Em dezembro de 2001, ainda com meus 17 anos de idade, escrevi pela primeira vez ao filósofo Olavo de Carvalho. Dentre outras coisas, disse que meu primeiro contato com seus escritos fora de repúdio, de resistência. Passei a lê-lo avidamente, não com a intenção de aprender alguma coisa, mas para refutá-lo. Claro, tudo isso no melhor estilo imbecil juvenil.

(Ainda quando estava no ensino médio, cheguei a comentar sobre seus artigos com minha professora de história — uma professora séria, porém comprometida pelos ideais esquerdistas. A resposta dela foi uma recomendação para que parasse de lê-lo. Fiquei um tanto contrariado, insisti nas leituras, até que me dei conta de que muito do que ele dizia não estava meramente no plano da opinião pessoal ou de uma cosmovisão peculiar. Sobretudo quando ele denunciava os males do marxismo, para mim ficou claro que se tratava de uma questão de verdade factual: ou o comunismo era de fato um regime sagüinário, ou não era. Quando me dei conta disso, resolvi procurar, ainda com toda a minha limitação, as respostas àquelas perguntas. E, para minha surpresa, descobri que ele estava certo! Daí até me desfazer de minhas convicções todas foi um processo bastante doloroso. E, aliás, ainda não está de todo concluído.)

Naquele mesmo e-mail disse-lhe que gostaria muito de assistir suas aulas, mas que não podia porque eram muito caras. Sua resposta foi inacreditável: JAMAIS NENHUM ALUNO MEU DEIXOU DE ASSISTIR AULA POR CAUSA DE DINHEIRO. VENHA!
Compareci àquela aula num sábado ensolarado em que meus pais foram a uma churrascada num sítio! Fiquei em casa sozinho para ir à aula. No final, fui agradecer-lhe e, mais uma vez, me espantei: ele me disse que eu poderia continuar freqüentando suas aulas, e que passaria a pagar a partir de quando tivesse dinheiro.
Sabem o que o bestão aqui fez?
Não apareci mais! Só por causa de timidez!

Até hoje este é um dos maiores arrependimentos que carrego.

Para minha alegria, parte dele está remediado. É que o Olavo passará a disponibilizar em uma nova seção de seu site parte do material utilizado em suas aulas. É necessário fazer uma inscrição, mas o preço é simbólico perto do valor inestimável. Quem tiver oportunidade, aproveite! Mais informações, clique no banner no canto superior direito deste modesto blogue.