quarta-feira, 28 de maio de 2008

O espírito do dia


Do Machado:

Prazos largos são fáceis de subscrever; a imaginação os fez infinitos.

Do Fernando Pessoa:

Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Esboço de um ensaio: ainda os blogues

Esboços, rascunhos e ensaios é o nome deste espaço porque, creio, sintetiza o que pode ser encontrado por aqui. Meus leitores são minhas cobaias. Tudo o que faço aqui é exercício de redação. Pretendo escrever coisas um tanto mais sérias, sim. Por isso brinco com o nome. Ensaio aqui pode ser entendido como aquela preparação para uma apresentação qualquer, mas pode também ser entendido no sentido de texto dissertativo sobre assunto específico. Esse texto, por exemplo, pretendia ser um ensaio. Mas cansei no meio do caminho e saiu de forma incompleta. Não chegou a ser um ensaio; é só um esboço! Por isso, esboço de um ensaio. Eita quanta palavra pra não falar nada! Vamos ao que interessa.
Posts atrás, na tentativa de contribuir para o debate sobre blogues (e a partir de agora pretendo assumir de vez a grafia assim, com -gue!) proposto pelo Bruno Garschagen, mencionei o lingüista francês Dominique Maingueneau apenas de memória; não me estendi sobre o assunto para não falar bobagens. Hoje, no entanto, depois de revisitar o tal texto, creio que posso empregar alguns conceitos do lingüista para abordar o nosso objeto.
Lingüistas profissionais e acadêmicos em geral que me perdoem a falta de rigor, mas não pretendo expor aqui exaustivamente o que diz Maingueneau nem tampouco restringir-me a utilizar a Análise do Discurso de linha francesa como teoria para fundamentar o que tenho a dizer. Vai aqui, na verdade, um exercício de informalidade, um achismo que, por acidente de percurso, encontrou em seu caminho um texto esclarecedor. Feita essa ressalva, creio que posso usar o autor em questão sem medo.
No capítulo seis, Mídium e discurso, Maingueneau postula que a manifestação material dos discursos, o seu suporte, é uma dimensão essencial do discurso. Ele pretende mostrar, e acho que isso é quase evidente, que o "meio de transmissão" de um discurso não é meramente um meio, mas influencia diretamente a própria construção dos enunciados. Isso é simples de perceber e cito exemplo do próprio autor para ilustrar (há muitos outros possíveis, pensem por si mesmos e procurem outros):
Consideremos o caso de uma reunião eleitoral na frança do século XIX. Ela se realiza num salão de festas, na sala reservada de um café ou na praça de um vilarejo. Os participantes saíram de casa para ouvir o candidato com quem posuem algo em comum: ele é da mesma cidade ou da mesma região, ou então situa-se ideologicamente próximo deles. Esse candidato é, na realidade, um orador que deve falar em voz alta, pois não há microfone; em tais condições, não se cogita em sussurrar ou em desenvolver argumentos complicados: o importante é unificar imaginariamente um grupo reunido intencionalmente.
Algumas décadas mais tarde, um político que faz sua campanha pelo rádio poderá falar com voz suave, amigável, dirigir-se individualemente a cada ouvinte. O mídium radiofônico permite à fala introduzir-se na casa de qualquer pessoa, surpreendendo-a em sua intimidade familiar. O locutor não pode mais contar com a cumplicidade do auditório, visto que será ouvido por todos — amigos, inimigos ou indiferentes — e que seus ouvintes não precisam se deslocar para ouvi-lo. O público não é mais constituído por uma comunidade de ouvintes voluntários que se apresentam como um grupo frente a um orador, mas por ouvintes dispersos e sem rosto, em relação aos quais já não é uma fala de indivíduo a indivíduo. Mais tarde, o surgimento da televisão vai provocar uma nova transformação no exercício do discurso político, reduzir a importância da exposição de idéias, privilegiando os debates, onde importa, antes de tudo, conquistar a simpatia dos telespactadores. Não podemos dizer que, com esses diferentes mídiuns estamos lidando com o mesmo gênero de discurso: as modificações das condições materiais da comunicação política transformam radicalmente os conteúdos” e as maneiras de dizer, a própria natureza do que chamamos de “discurso político” e “política”.
E aqui chegamos ao ponto onde queria chegar. Não sei se na continuação de seus estudos Maigueneau chega a tratar especificamente sobre os blogues (consegui grafar! mas com esforço!), mas me parece o próximo passo de sua narrativa. Duas coisas importantes: os blogues são um novo suporte para os discursos, isto é, um novo mídium, e por conta de todos os recursos que este mídium possibilita, temos um novo gênero de discurso. Pensar em gênero do discurso é diferente de pensar em gêneros literários. Enquanto Olavo de Carvalho, em seu livro Os gêneros literários e seus fundamentos metafísicos, trata do fenômeno especificamente literário, Maingueneau pretende propor uma classificação que abarque todo e qualquer tipo de texto, ou melhor, de discurso, chegando ao extremo de considerar até mesmo uma conversa de elevador um gênero. O que constitui um gênero? Um conjunto de características comuns que os discursos individuais têm entre si. Assim, por exemplo, podemos marcar como características das conversas de elevador a sua brevidade, suas fórmulas de polidez, a relação fortuita entre os interlocutores, entre outras.
Mais adiante, ainda no capítulo 6, Maingueneau fala a respeito dos enunciados dependentes e independentes do ambiente, dos quais os dependentes se dirigem a um enunciador presente, que a qualquer momento pode intervir — o que justificaria, por exemplo, a presença de elipses de objetos que estão presentes no ambiente, de embreantes (chamados também dêiticos, aquelas palavras que remetem ao momento da enunciação: eu, aqui, agora...), de modalizações que comentam a própria fala para corrigi-la ou para antecipar-se às reações do co-enunciador, de fórmulas fáticas, de uma sintaxe menos elaborada, empregando mais a parataxe que a hipotaxe (nomes metidos a besta para o que aprendemos na escola com o nome de coordenação e subordinação) — e os independentes, que são aqueles que têm a necessidade de serem autosuficientes, que constroem um sistema de referências intratextual. Eles não se apóiam em um ambiente partilhado com o co-enunciador, que não pode interferir na enunciação.

(texto inacabado, interrompido por razões de força maior. A continuação vem já já, neste mesmo post).

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Gestão do constrangimento


Todo mundo passa por constrangimentos. E o efeito mais patético do constrangimento é a tentativa de fingir não estar constrangido. Orwell escreveu que o maior inimigo do homem é o sistema nervoso. Isso porque é ele quem nos trai. Qualquer sentimento é prontamente denunciado por um gesto involuntário. E não há como controlar. Pense na vez em que você foi motivo de chacota e tentou mostrar que estava achando aquela situação muito divertida. Riu, forçosamente, de você mesmo. E todo mundo percebe que você está sem graça. Não há disfarce que funcione: a cara de pastel denuncia que você – apesar do falso riso – está incomodado com aquilo.

Fiz a divagação acima para contar uma situação que aconteceu comigo no último sábado. Foi na festinha de aniversário da filha de um primo meu. Quatro aninhos de idade, e toda uma vida para se constranger. Tudo corria bem: brigadeiro, bolo, crianças correndo, minha sobrinha (linda!) se esgoelando. Mas eis que surgem dois palhaços – falo do profissional, ok? - para “animar” a festa. Piadinhas infantis, historinhas que envolvem as crianças (e os adultos também), tudo o que se espera de um palhaço que labuta para ganhar o pão de cada dia.

Mas os palhaços são seres acima do bem e do mal. São revestidos de uma autoridade moral que poucos seres dispõe: eles podem tanto levar uma tortada na cara, quanto discorrer sobre a fugacidade da vida. Usufruindo dessa soberania, meus palhaços, ou melhor, os palhaços da festa, tiveram a brilhante idéia de constranger os presentes. E foram muito felizes na empreitada. Um apelido num fulano, uma gozação sobre a roupa do outro, um comentário sobre a altura de um dos convidados... tudo muito, muito divertido.

Mas o melhor estava por vir: os gênios tiveram a brilhante idéia de fazer um campeonato de dança. E quem eram os competidores? Ora, os seres do sexo masculino (categoria na qual eu me incluo) presentes no recinto. Um por um, carregados e enfileirados no “palco”, fingindo estar achando aquilo “o maior barato”. Vi um senhor sendo arrastado! “Não, eu não sei dançar”. Sem chance: a competição não admitia neutralidade. Ali, certamente, havia engenheiros, empresários, mecânicos, porteiros, jornalistas, o diabo. Todo mundo muito competente em seus respectivos ofícios, mas inábeis, absolutamente incapazes de administrar um constrangimento. E tem o paizão que não pode decepcionar a cria fazendo papel de chato.

Solta o som maestro! “YMCA”, do Village People - grupo que faz música de gay para hetero ouvir e soltar a franga -, era a trilha sonora. E quem foi o primeiro candidato? Eu mesmo, oras! Levantei os braços, mexi as pernas, uma rebolada e pronto: estava livre daquele calvário. Sempre com um sorriso forçado no rosto, claro. Depois de mim vieram outros, e os palhaços incrivelmente sempre tinham uma piadinha na ponta da língua. O campeão, por razões óbvias, foi o dono da festa.

Depois da derrota, sentado à mesa com uma coxinha na mão, refleti sobre nosso estado. O homem, em sua infinita sabedoria, conseguiu desenvolver técnicas de negociações, terapias, antidepressivos, chegou à Lua! Mas ainda carecemos da poção mágica para lidar de forma elegante com nossos constrangimentos. Sonho com um mundo em que as pessoas serão livres para enrubescer sem perder a ternura... jamais.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O Fórum da Liberdade

Fico impressinado como, mesmo depois da internet e do youtube, ainda é restrita a circulação de informações. Ou melhor, informação há, está tudo disponível, o problema é que as pessoas simplesmente não sabem como chegar até ela. Refiro-me, por exemplo, ao XXI Fórum da liberdade, ocorrido no último mês de abril. O evento contou com a presença de Tom Palmer, Vice-Presidente de Programas Internacionais do Cato Institute, e outros debatedores ilustres, entre os quais o nosso Ciro Gomes!
Usando do subjetivismo que só a linguagem dos blogs permite, digo: foi lindo de ver o debate entre os dois! E, claro, Ciro Gomes deve mesmo ter saído envergonhado do debate. Não está entendendo? Então assista:





E aqui a segunda parte:





Foi lindo ou não foi?

Sobre blogs

Bruno Garschagen está publicando uma série interessantíssima a respeito do fenômeno relativamente recente dos blogs. A discussão é assaz pertinente e o mais curioso é que, ao mesmo tempo em que se fala de um tipo de relação entre leitor e blogueiro, essa mesma relação se mostra. Bruno tem utilizado como material de suas reflexões uma porção de comentários de seus leitores, muitos dos quais também são blogueiros.
Para evitar incompreensões, explico: o que estou chamando de recente, ao menos no Brasil, é o fato de haver blogs que podem ser tratados com seriedade, não aqueles diarinhos de adolescente que costumavam dominar a cena até bem pouco tempo atrás.
O lingüista francês Dominique Maingueneau, em seu livro Análise de textos de comunicação, apresenta-nos a noção de midium, e procura mostrar como o veículo pelo qual determinada mensagem é transmitada molda a própria mensagem. Não vejo exemplo mais eloqüente desse conceito do que os blogs. A profusão de links que remetem às mais diversas fontes de informação, quer sejam de empresas de comunicação já bem estabelecidas, quer sejam de outros blogs, possibilita — na verdade, exige — uma outra postura do leitor frente ao texto. Se quisermos compreender o que determinado autor está dizendo, devemos ter acesso à mesma informação que ele. Mas isso é o de menos: a informação está a apenas um clique!
Seja como for, o assunto ainda há de dar muito pano para manga. De minha parte, faço o meu bloguinho modesto e vou contanto o que a gente boa anda dizendo por aí.

sábado, 17 de maio de 2008

The big brother is watching over you


Uma maneira de permanecer fiel aos nossos propósitos é fazer promessas. Depois da palavra empenhada, deixar de cumprir o que foi prometido passa a ser um pecado. Ainda que não haja ninguém a nos cobrar, a nossa consciência já é suficiente!
Por que digo isso? Porque assumi o compromisso de manter isso aqui atualizado; e com coisas razoáveis, não qualquer bobajada! Isso demanda tempo, sim, mas dá um grande prazer também.
Há já uma porção de promessas feitas: o texto sobre a logoterapia, sobre o Phillip Pulman, uma leitura mais detida de Chesterton e por aí vai...
As promessas estão feitas! Agora cabe a mim cumpri-las!

O assunto é comida


Quem nunca se sentiu ludibriado depois de comer mais com os olhos que com a boca?
Basta clicar aqui para descobrir do que estou falando. Vez por outra digo que pagamos mesmo é por grandes embalagens! Definitivamente, o mundo é dos publicitários e dos designers!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A mídia e o assombro que sacia...


Estréio falando sobre a imprensa – ou “mídia”, como preferem alguns. Inexiste classe que não se julgue “perseguida” pela dita. Negros, pobres, religiosos, militantes de movimentos sociais, empresários, tucanos ou petistas. Se perguntados sobre o tratamento recebido pela mídia, todos levantarão ressalvas: “não é bem assim”, “leitura enviesada”, “matéria parcial”, “estão nos demonizando”. A mídia só faz vítimas, nunca beneficiários.
Li há pouco um artigo publicado no Le Monde a respeito do assassinato da pequena Isabella. O título era sugestivo: “O Sorriso de Isabella assombra o Brasil”. Num determinado momento o articulista elege aquela que seria a grande culpada pela exagerada comoção popular, ou melhor, o “fermento para excitação”: a mídia, claro. Diz:
“Os meios de comunicação alimentaram um clima de frenesi em torno do assunto. Para sua cobertura, a Rede Globo, maior do país, mobilizou em permanência 15 equipes de repórteres e cinegrafistas, três veículos de transmissão ao vivo e um helicóptero.”
Isso é um tanto óbvio, não? É notório que houve inúmeros exageros na cobertura do caso. Lembro-me de uma repórter que entrou ao vivo em um desses telejornais mais “Hardcore” e respondeu ao ser questionada sobre as novidades: “Nenhuma novidade, fulano. Hoje o casal não apareceu e ninguém da família quis falar com a imprensa”. Ora, a repórter sabia tanto quanto eu – nada! Não havia motivo para estar ali; não havia motivo para acampar na porta do casal se sabia que nada conseguiria. Tudo isso é verdade, mas a discussão é outra.
Afinal, é verdade que a mídia tem a capacidade de, digamos, “formar opinião”? Será que de fato existe esse poder quase mágico de determinar nosso gostos, nossas obsessões? Há quem diga – e a discussão é deveras densa para ser tratada agora – que a mídia responde a certas demandas: ou seja, ao invés de “formar” opinião, ela “reproduz” opiniões já formadas. Veja o exemplo das novelas. É comum os autores mudarem determinados enredos para agradar o público. Ao invés de enfiar goela abaixo certos temas, eles captam aquilo que os espectadores querem ver e jogam na tela. O efeito é reconfortante...
É notória essa nossa predileção pelo trágico; esse gosto delirante pelas desventuras alheias. Será que, como dizem alguns psiquiatras, existe um Nardoni adormecido em cada um de nós e o misto de repulsa e curiosidade seria apenas o instrumento que temos para exorcizá-lo? Nesse caso, a mídia-exagero nada mais é senão o reflexo de nós mesmos. Tão mórbida e obsessiva quanto você e eu...

Olha eu aqui!


Aceitei o convite do meu caro amigo William, e cá estou. Esse blog agora se junta à categoria de páginas na internet que têm mais autores do que leitores.
Sou jornalista, o que não é vantagem para ninguém, e meus assuntos preferidos são futebol e futilidades – nessa ordem. No primeiro post falo sobre futilidades. O futebol eu deixo para os sábios.

A celeuma do dia

Einstein em um de seus momentos de oração (hehehe!)


Mais uma vez está na pauta do dia a polêmica entre religiosos e ateus. Há, sim, uma militância anticristã bastante barulhenta. Desde há muito, quem quer que circule nos meios acadêmicos, ou qualquer outro lugar onde haja a pretensão de intelectualidade, sabe que o tom de desprezo pelos religiosos é recorrente. Não é de hoje que pretendem desautorizar o discurso religioso simplesmente porque religioso. O que tem havido atualmente é um recrudescimento desse desprezo. Ateus resolveram partir para o ataque. Trata-se de uma espécie de proselitismo ateístico. De todos os polemistas do dia, o que me pareceu mais pernicioso é o tal do Phillip Pullman. Vai virar assunto depois!


Retomando. Escrevo esse post para tratar da tal carta de Albert Einstein declarando seu desdém pela religião. Como sabemos, e sobretudo depois da internet, há uma profusão de textos apócrifos circulando por aí com historinhas interessantes atribuídas a grandes personagens da ciência. Dia desses recebi um a respeito de Louis Pasteur. O e-mail dizia se tratar de fato verídico que consta na biografia oficial, etc., etc. Só que não dava a referência!!! Aí, meus caros, por mais que houvesse algum valor na moral da história, o simples fato de ser apócrifo já era suficiente para abalar a credibilidade do texto.


A caricatura do cristão como o crédulo boboca, o ingênuo que adere a qualquer discurso, o fracote que precisa de alguma coisa em que se sustentar não é, de forma alguma, sem razão. Que dizer agora? Aquele aforismo que dizia “um pouco de ciência nos afasta de Deus, muita ciência nos aproxima dele” pertence a quem? Já cheguei a vê-lo atribuído a Einstein. Talvez até do púlpito, não estou muito certo. Indo ao ponto, escrevo mais como uma exortação aos crentes que como uma censura ao cientista.


Em meio a tudo isso, fico feliz por ter amigos ateus, mas com bom senso. Aliás, a verdade vale mais que um simples compactuar de sentimentos comuns. Não somos nós contra eles. Não pode haver corporativismo nessa história. Digo isso porque a voracidade estúpida dos neo-ateus não será menor do que a não menos estúpida reação de alguns religiosos. Então devagar com o andor. Coloquemos as coisas no seu devido lugar. Ninguém é melhor ou pior porque cristão. Ninguém é melhor ou pior porque ateu. Somos todos humanos. E sujeitos a erros. Um pouco de bom senso é bom e eu gosto. E como gosto, divulgo. Segue texto do meu amigo Alex Lennine, que cursa a graduação em filosofia comigo. Pensei em fazer duas ressalvas ao texto dele, mas publico primeiro tal como o recebi. Polemizo depois, se me sobrar vigor!


Um modo ingrato de colocar as coisas, afinal


É comum que as pessoas busquem grandes exemplos na História a fim de darem ares de seriedade, profundidade e verdade a suas crenças. O velho (e mau) argumento de autoridade.


Einstein é um dos mais disputados. Religiosos e não-religiosos alternam-se em citações para demonstrar que ele era, afinal, religioso e cria em deus; ou não era religioso, mas ateu. Mas há muitas razões para alguém ser, bem como não ser religoso e acreditar ou não em deuses. Só ocorre que inteligência e caráter não estão entre elas – são tão mal distribuídas lá como cá.


Muitos religiosos são decididamente desonestos ao tentar atribuir a Einstein algum aspecto religioso e teísta quando ele sempre deixou claro que “seu deus era o deus de Spinoza” - algo mais diferente que um deus pessoal, criador e interventor que o deus de Spinoza, convenhamos, é difícil sequer de imaginar.


A religiosidade a que ele se referia é aquele sentimento de assombro, de perplexidade, que é anterior e *causa*, não conseqüência, da religião – que está na causa também da filosofia, das ciências, das artes... e não foi cooptado por nenhuma dessas esferas. Eis, pois, um dos problemas da religião: mesmo quando a defender e encarnar valores bons, úteis, ela os enquadra, os seqüestra, os enforma. E então eles deixam de ter valor em si e passam a ter valor “porque” religiosos.


É neste sentido que, afinal, há alguma justificativa para os ateus buscarem bons exemplos de ateus na História: os ateus que são os discriminados, os injuriados, os acusados. Que precisam provar que não são imorais, que não têm raiva de deus (ou todos os que não acreditam no Papai-Noel não acreditam nele “porque” não recebiam presentes e por isso têm-lhe raiva?). Exemplos como Einstein, nesta nova carta, têm esse valor.


Mas somente esse. O fato de igualmente haver tantos gênios e tantos grandes homens e mulheres teístas e religiosos também deveria ser suficiente para calar os ateus que se acham superiores simplesmente porque ateus.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Tiro no pé: ainda a ortodoxia



Embora na última mensagem o Capitão Nascimento estivesse apontando sua arma para baixo, o título desse post não se refere a ele, não. Refiro-me a um tópico mais abaixo, no qual indico um curso sobre a Ortodoxia, de Chesterton. Minha motivação? Uma conversa que tive ontem com alguns colegas de faculdade.
Sou cristão. Mais ainda: sou cristão protestante. Sou Metodista. Quem conhece um pouquinho da história do cristianismo sabe bem que os metodistas descendem da Igreja Anglicana e são fruto de um, chamemos assim, despertamento espiritual de John Wesley, no séc. XVIII. Tenho de afirmar isso porque, embora tenha um certo orgulho de dizer que sou o que sou, ontem fiquei profundamente envergonhado diante das histórias todas que me foram contadas acerca do que anda acontecendo em muitas igrejas ditas cristãs por aí.
Juro, juro mesmo, não sabia que aquelas coisas todas pudessem acontecer. A mim eram inimagináveis. Gente que se arroga o poder divino e, com um misto de má fé e ignorância, manipulam multidões. Querem exemplos?
Há o caso do pastor que, por não entender determinada passagem bíblica, entendia que Deus o estava mandando adulterar. Esse caso ficou famoso, foi parar na televisão e tudo. Outro é o do pastor que só conseguia pregar depois de cheirar cocaína. Vai ver ele carecia de outro tipo de inspiração... Piores ainda são as outras, que se dão no campo das "representações simbólicas". Dizer que há pessoas que se sentem enobrecidas por pertencer a uma igreja cujo pastor traja as melhores vestes ou tem um carro importado, ou cujo templo é suntuoso, me pareceu uma discrepância tão absurda, mas tão absurda, que sequer sou capaz de verbalizar o asco que senti!
Sem falar no que se refere aos absurdos teológicos: tititi, tátátá, eis que te digo e blablablá!

Que dizer? Acho que os padres da Igreja tinham mesmo razão ao afirmar que cabia ao magistério a intrepretação das sagradas escrituras. Pelo menos não teríamos o samba do criolo doido que temos visto por aí.

Se não a Ortodoxia do Chesterton, fiquemos ao menos com o Mero Cristianismo* de C. S. Lewis.


*Mero Cristianismo é o título da edição da editora Quadrante, com tradução de Henrique Elfes. A Martins Fontes publicou o mesmo livro com o título Cristianismo Puro e Simples. O tradutor eu ignoro...

Confirmado: ele vem


Taí, a resposta veio mais rápido do que imaginei. Esse blog agora não é mais uma página pessoal. Somos dois! Conseguimos divergir em muitos assuntos e voltar a nossa atenção a coisas absolutamente díspares entre si. Quem ganha com isso? Os leitores. Comentários políticos ficam por conta dele (salvo se eu não conseguir me conter).
Já disse que ele é jornalista, certo? Já disse que somos amigos também, né? Então, não há mais apresentação possível, ao menos não de minha parte. Esperemos que ele apareça e se mostre.
Caso um de meus dois leitores não goste da idéia, posso chamar o capitão Nascimento para forçá-lo a pedir para sair. Mas creio que não será necessário.

PS: Com essa cara de besta do capitão, eu não sairia não!!!

Pedindo reforço


Criar um blog é fácil. Difícil mesmo é, na verdade, mantê-lo com coisas interessantes e dignas de serem lidas. Embora minha presunção às vezes queira me convencer de que sou o centro do mundo, tenho de admitir que, sozinho, sou absolutamente incapaz do feito. E fazer post para justificar ausência de post me parece uma bobagem. Não pretendo que este espaço se torne um diariozinho de adolescente; tampouco pretendo limitar-me a fazer clipping de textos alheios. A reprodução pela reprodução não tem sentido algum.
Encontrar-se-á por aqui um pouco do que leio, sim, mas já com trechos selecionados, comentados quando possível, tentando apresentar algum viés que eu julgar pertinente.
Como tenho um jeitão meio maçante e tals, convidei um amigo para compor o blog comigo. Parece que ele vai aceitar. Acho que sua presença por aqui será muito bem-vinda e acabará por dar outra dinâmica a este blog. Tenho minhas neuras, meus assuntos recorrentes, minhas citações, mas com um leque um tanto restrito. As experiências, leituras e a criatividade dele ajudarão a diluir um pouco a minha limitação. Sem contar que há chances de atrair mais gente. Nem que nossos leitores se limitem aos nossos próprios amigos: como somos dois, o número praticamente dobra!
Ele é jornalista, escreve com maior fluência e freqüência que eu. Elton Frederick, com seu nome publicado, quero ver você desistir e me deixar passando vergonha diante desses meus dois leitores!!!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sobre o sentido da vida e o especificamente humano

Como pretendo redigir eu mesmo um pouco do que tenho aprendido no curso de formação em logoterapia, ministrado pela Sobral, apresento apenas um excerto de Gabriel Perissé, citando o próprio Viktor Frankl:

***

O criador da Logoterapia, Viktor Frankl, relata que certa vez foi ministrar uma palestra num presídio norte-americano e lá soube de um homem chamado Aaron Mitchell, condenado à morte, que na manhã do dia seguinte seria executado na câmara de gás. Pediram ao Dr. Frankl que lhe dirigisse algumas palavras. O problema é que só poderia comunicar-se com ele por intermédio de um microfone, de modo que todos os demais presidiários o ouviriam também:

“Imaginem a situação e a minha vergonha diante desse pedido. Mas eu tinha de dizer alguma coisa ao condenado, e acabei improvisando mais ou menos estas palavras — ‘Sr. Mitchell, de alguma forma penso que posso compreender a sua situação. Afinal, também eu vivi alguns anos à sombra da câmara de gás. Mas, acredite em mim, mesmo naquela situação não duvidei em momento algum do sentido incondicionado da vida. Ou a vida tem um sentido, e então ela o retém mesmo que vivamos um tempo relativamente curto; ou, se não o tiver, não o ganharia mesmo que vivamos toda a eternidade. Até uma vida falhada, cujo passado parece totalmente destituído de sentido, pode ainda ser preenchida de forma retroativa pela maneira como tomamos posição diante de nós mesmos e nos transcendemos a nós próprios nessa tomada de posição.’

Mais, clique aqui.

Um novo livro para a última flor do Lácio

O novo acordo ortográfico da língua portuguesa nem bem saiu do papel e o primeiro dicionário com todas as mudanças agrupadas já está à venda. Trata-se do Novo dicionário da língua portuguesa, sob consultoria de João Malaca Casteleiro, da Texto Editores, uma das 10 empresas que fazem parte do grupo Leya. A editora portuguesa sai na frente das brasileiras, que ainda avaliam de que forma vão reeditar seus dicionários quando o acordo for decidido, o que deve acontecer até o fim deste mês.

A editora Positivo, responsável pelos dicionários Aurélio, já trabalha para uma nova edição a ser lançada ainda este ano e prepara cartilhas para atualizar os professores. Boa parte do material didático comprado pelo governo para utilização nas escolas públicas é produzido pela editora paranaense.

– Muito se fala nas mudanças de letras e acentos. Mas é preciso pensar também nos professores, que deverão ser reciclados antes que as mudanças sejam adotadas – lembra o diretor de livros e periódicos da Positivo, Emerson Santos.

A Academia Brasileira de Letras (ABL), que acabou de finalizar seu primeiro dicionário escolar, a ser publicado pela Editora Nacional, teve de correr para "parar as máquinas". Quando o livro ficou pronto, os lexicógrafos perceberam que as mudanças já seriam uma realidade à época do lançamento. E decidiram elaborar um suplemento com as alterações, encartado, até que o acordo vire lei.

O livrão do bruxo

A ABL, aliás, engatou a primeira dos dicionários: depois do escolar, a equipe composta por cinco lexicógrafos prepara um dicionário de Machado de Assis. A partir de 17 obras, chegaram a um universo de 9 mil palavras. A lista compilada é uma amostra significativa da linguagem usada na virada do século 19.

– O vocabulário de Machado de Assis não é precioso mas é refinado – explica Bechara. – Um português rico, mas sem arcaismos.

Entre as palavras encontradas, curiosidades como "camborça" (amante), "gamenho" (elegante) ou "urtigar" (castigar com urtigas).

– Ao ler Machado, é preciso atentar para algumas especificidades da época, que se refletiam na língua. Almoço, por exemplo, não é a refeição que hoje entendemos por almoço, ao meio-dia, mas o desjejum. A palavra vem do latim, ad mordium, que significa a primeira mordida, a quebra do jejum. E, naquela época, as pessoas faziam as refeições mais cedo. São nuances como esta que atribuem outros significados ao romance – explica o lexicógrafo Claudio Mello.

A história

O primeiro dicionário de língua portuguesa foi feito no século 19 por Rafael Bluteau. Depois dele, houve a tentativa da Academia Real de Ciências de Lisboa, mas não conseguiram passar da letra A. O lingüista Antônio de Morais e Silva fez então o que viria a ser o mais importante do século 19, segundo especialistas, o Diccionário da língua portuguesa. Vieram então o Caldas Aulete, que foi editado pela primeira vez em Lisboa, em 1880, e o Laudelino Freire, já no século 20.

Hoje, cada dicionário tem um estilo claro. O Houaiss, por exemplo, é o mais erudito, voltado para a origem etimológica. E o Aurélio, um dicionário de abonação, repleto de exemplos do uso, principalmente da literatura.

Jornal do Brasil, 10 maio 2008. Caderno Idéias e Livros.

Ortodoxia


Definitivamente, estamos todos condenados à liberdade. Cada escolha exige necessariamente uma renúncia. Não estou muito certo, mas acho que foi Jean Guitton, em sua Arte de Viver e Pensar, quem disse que aquele que sabe não desprezar também não sabe valorizar.
Por que estou dizendo isso? Porque tenho visto uma porção de eventos de que gostaria de participar, livros que gostaria de ler, músicas que gostaria de ouvir, pessoas com quem gostaria de estar e acabo tendo de me restringir por causa de uma escolha. E é sempre possível ter tomado a decisão errada.

Costumo dizer que as obrigações acadêmicas com freqüência atrapalham os estudos. Eis um caso. Infelizemente, não poderei participar dessa discussão sobre o texto de Chesterton. Para aqueles que dispõem de tempo, vai a dica. Divulgação encaminhada pela É Realizações:

FINALMENTE COMEÇA, EM MAIO, NA IGREJA NOSSA SENHORA DO BRASIL, O GRUPO DE LEITURA COMENTADA da "ORTODOXIA" de G. K. CHESTERTON
G. K. Chesterton foi um dos mais brilhantes intelectuais do século XX, debatendo publicamente com os maiores representantes das correntes materialistas, como Bernard Shaw. O resultado é a melhor interpretação filosófica do cristianismo já escrita.
Durante dez noites, com intervalos mensais, você lerá em São Paulo a obra "Ortodoxia" de Chesterton, com comentários e orientação de José Monir Nasser.
As datas já determinadas são as seguintes: 15 de maio, 19 de junho, 17 de julho, 14 de agosto, 4 de setembro, 2 de outubro, 30 de novembro e 11 de dezembro. Há duas datas ainda por definir.
As dez noites, perfazendo 35 horas de aula, custam R$600,00, incluindo o livro. O valor pode ser pago em três cheques.
Os encontros serão na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, que fica na avenida Brasil esquina com avenida Colômbia.
Informação e inscrições até o dia 12 de maio com Patrícia pelo e-mail triadeeditora@triadeeditora.com.br <> ou pelo fone (041) 3363-7600.
Vagas limitadas.

domingo, 11 de maio de 2008

Músicas da minha geração



Na minha geração, ou pelo menos no meio por onde circulava, os adolescentes não tinham mais o fetiche por uma guitarra. Seu sonho de consumo era mesmo um par de pic-ups. Passados os anos, vem esse cara e resolve usar as pic-ups numa atitude bastante rock'n'roll!!!

Não me sinto muito confortável com isso. Essa é uma das minhas contradições. Apreciador do silêncio, mas ouvinte de uma barulheira dessas... Sei lá... É bem provável que com o passar do tempo as coisas mudem. Por ora, ainda piro quando vejo algo desse tipo. No vídeo, DJ Marky!

Aslam

Há quem considere "As crônicas de Nárnia" uma história boboca; outros a acham evidente demais; alguns cristãos a acham uma história pagã; outros exaltam suas virtudes. Pertenço a esse último grupo!
Pra ilustrar, Aslam!

Sobre amigos imprevistos

"São os livros uns mestres mudos que ensinam sem fastio, falam a verdade sem despeito, repreendem sem pejo, amigos verdadeiros, conselheiros singelos; e assim como à força de tratar com pessoas honestas e virtuosas se adquirem insensivelmente os seus hábitos e costumes, também à força de ler os livros se aprende a doutrina que eles ensinam.
Forma-se o espírito, nutre-se a alma com os bons pensamentos; e o coração vem por fim a experimentar um prazer tão agradável, que não há nada com que se compare; e só o sabe avaliar quem chegar a ter a fortuna de o possuir."
Pde. Antonio Vieira.