domingo, 2 de maio de 2010

Linguagem e consciência

Em meados de 2008, li pela primeira vez as crônicas de Paulo Rónai. Lembro-me de que, na ocasião, estava estudando um pouco de teoria da tradução para melhor fundamentar intervenções que vinha fazendo em meu trabalho como revisor de textos. Ainda hoje tenho a impressão de que foi uma temeridade entregar a mim a tarefa de fazer o cotejo entre textos traduzidos e seus originais. Assumi tal responsabilidade mais como quem aceita um desafio do que como quem sabe com segurança o que está fazendo.
Durante a graduação em letras, já tinha visto circular os livrinhos de Rónai para o ensino do latim. Aliás, trago em minha memória o lamento de um dos meus professores:
— Vocês estão achando difícil um livrinho que o Rónai escreveu para dar aulas para os alunos da 5ª série!
Alguns ficaram ofendidos; outros ignoraram a fala do professor; eu, bem, eu fiquei com aquilo na cabeça e anos depois é que comecei a me dar conta da dimensão do lamento do meu professor. Li Escola de tradutores, A tradução vivida e somente então, já bastante empolgado com o estilo do autor, conheci o livro Como aprendi português e outras aventuras.
Li-o de um só tiro, com uma empolgação experimentada poucas vezes antes. Supreendi-me com a fluência de seu texto português. Inquietei-me com o fato de um estrangeiro escrever com tamanha naturalidade uma língua que é considerada difícil por boa parte de seus falantes nativos. Em cada página, pude ver um homem que demonstrava uma verdadeira devoção à língua do país que o acolheu em seu tempo de exílio.
E foi justamente neste livro que encontrei a crônica aqui publicada na última semana (Uma geração sem palavras). Envergonhei-me ao lê-la e perceber que sua percepção não só estava correta, como agravada com os anos que se passaram. O texto foi escrito em 1954; desde então — creio que ninguém há de por em dúvida — as coisas só pioraram.
Ruminando esta leitura, comecei a lembrar-me de outros textos que de certa forma versam sobre o mesmo tema. E fiquei pasmo. Não articulei muito bem o que se pode depreender dessas coisas e gostaria apenas de elencá-las, para que outros possam me ajudar nessa reflexão. Os próximos posts serão esses textos. Em breve!

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